O
município de Campo Formoso, localizado no Centro-Norte do Estado da Bahia,
possui um grande potencial espeleológico. Suas inúmeras cavernas são estudadas
por grupos de espeleólogos que fazem o reconhecimento destas através do
mapeamento de salões e corredores. Vários grupos de espeleólogos já fizeram
estudos em cavernas do município de Campo Formoso, destacando-se a SEE
(Sociedade Excursionista e espeleológica) e a SBE (Sociedade Brasileira de
Espeleologia). Esses dois grupos mapearam a gruta do convento, as pontes do
Sumidouro e a Gruta do Cesário.
Sem
dúvida, o grupo de espeleólogos que mais se destacou e continua em destaque é o
Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas. O Grupo Bambui é formado de
profissionais de diversas áreas como engenheiros, geólogos, médicos,
psicólogos, entre outros. Os componentes do Bambui misturam o amor e a emoção
pela espeleologia com o cientifico.
De
acordo com Renato Scapolatempore em matéria publicada no Jornal Hoje em Dia de
Belo Horizonte em 1999, os estudiosos já não têm duvida que, dezenas de
milhares de anos atrás, no lugar da vegetação rala do sertão de Campo Formoso
havia ali exuberante floresta tropical. A matéria menciona que as peças mais
importantes que apóiam essa teoria são duas ossadas de macaco semelhante ao
mono carvoeiro e os restos de uma preguiça gigante em final de gestação, com o
feto fossilizado. Segundo Castor Cartelle, paleontólogo da Universidade de
Minas Gerais, esses macacos viviam em arvores altas e não podiam ter sido
arrastados pela água de muito longe. Cartelle afirma ainda que essa floresta
que existia nessa zona nordestina poderia ter sido um prolongamento da Mata
Atlântica.
Vários
fósseis já foram encontrados nas grutas de Campo Formoso, são eles: tigre
dente-de-sabre, ursos, morcegos e pequenos animais carnívoros. O tigre
dente-de-sabre era pouco maior que um leão, o urso era do tamanho de uma
ovelha, segundo Cartelle talvez tenha sido o menor urso que já existiu no planeta.
Na região viveu há cerca de 15 mil anos o lhama, um animal de clima frio.
Segundo Cartelle, deve ter ocorrido um fenômeno climático há milhares de anos
que fez com que o território brasileiro se tornasse um refúgio para o rigoroso
frio que avançou sobre outras regiões do continente.
O
Grupo Bambui e Castor Cartelle encontraram um macaco conhecido como Protopithecus brasiliensis (espécie
extinta) e partes de outra espécie desconhecida denominada Caipora Bambuiorum, em homenagem ao Grupo bambui. O Caipora Bambuiorum era menor que o Prothopithecus, vivia no alto das
arvores e se alimentava de frutas. O Protopithecus
era maior que o Mono Carvoeiro, o maior primata das Américas.
A
Gruta do Convento situa-se nas
proximidades do povoado de Baixa Grande e Abreus, sua extensão é calculada em 6
km. A Gruta da Toca da Onça se
encontra no Povoado de Tiquara, tem grande importância cientifica, pois, no seu
interior encontramos uma grande variedade de pinturas rupestres, embora em sua
maioria já depredadas. A Gruta de Abreus
ou do Cesário apresenta inscrições atribuídas aos índios que viviam nas
suas imediações. A Gruta Icó
situa-se proximidades do povoado de Caraíbas. Nas proximidades do povoado de
Lage dos Negros estão a Gruta da
Barriguda e Toca da Boa Vista,
as quais têm sido atrativas para estudiosos não somente devido à beleza, mas
também devido as suas extensões e à presença de fosseis no interior dessas
cavidades.
A
Toca da Boa Vista, com mais de 120
km de galerias mapeadas até 2007, é a maior gruta do Hemisfério Sul. É um
poço árido e quente, no seu interior a temperatura oscila entre 27 e 32 graus
centígrados. O lençol freático que escavou suas entranhas foi extinto a
milhares de anos. A expectativa dos pesquisadores é que sua extensão real
chegue aos 200 km.
A
Toca da Boa Vista e as cavernas vizinhas não são locais agradáveis para visitas
de caráter recreacional. A alta temperatura interna (27 - 29 ºC) traz
desconforto à atividade de exploração, e obstáculos diversos ao longo do
percurso fazem com que muitos de seus trechos mais cênicos estejam fora do
alcance de leigos. No entanto, ainda que não possua atributos como rios
subterrâneos e ornamentações ativas como em muitas cavernas turísticas, muitos
trechos nestas cavernas podem ser considerados entre os mais espetaculares
existentes em todas as cavernas brasileiras.
O
Conduto dos Discos Voadores, na Toca da Boa Vista, é uma extensa série de
salões e galerias que contém excelentes exemplos de espeleotemas subaquosos,
como jangadas, cones, vulcões e marquises. Essas ocorrências incluem-se entre
as mais expressivas do tipo em cavernas brasileiras. O Conduto Caatinga, na
Toca da Barriguda, é profusamente ornamentado com belas espeleotemas
cristalinos com destaque para as estalagmites.
Espeleotemas
de gesso e bassanita, incluindo pequenos candelabros, ocorrem em alguns locais.
Espeleotemas mais comuns, como estalactites, estalagmites e escorrimentos são
abundantes em muitos trechos das cavernas. No extremo norte da Toca da Boa
Vista, um rio seco, cujo leito é preenchido por calcita de cor branco-leitosa,
corre por sobre um solo de argilas avermelhadas, criando um efeito visual
espetacular. Depósitos de septária (gretas de contração preenchidas por
calcita) ocorrem nos trechos centrais da gruta, constituindo um dos melhores
exemplos no mundo deste tipo de espeleotema. Mesmo em locais onde não há
ocorrência de espeleotemas, a morfologia de muitas galerias é bastante
atraente. Salões abobadados e belas intercalações de chert em um dolomito de
cor clara contribuem para uma morfologia de forma geral bastante interessante.
A
Gruta da Barriguda era denominada
Gruta dos Patos. É provável que esse nome se deve ao fato de que, na área onde
se encontra a cavidade existia um lago onde viviam dezenas de patos. O lago
teria secado, num processo lento, em questão de três décadas. Por ocasião do
Centenário de Campo Formoso, essa gruta passou a ser chamada de Gruta do
Centenário, mas, devido à existência de outra gruta com esse mesmo nome, essa
caverna tem hoje o nome de Gruta da Barriguda, nome esse derivado de uma
barriguda que estende suas raízes na entrada da mesma, tornando assim o lugar
ainda mais belo. A Gruta da Barriguda é considerada
umas das mais belas do planeta devido ao fato de possuir belas e conservadas
estalactites e estalagmites.
REFERÊNCIAS
AULER, Augusto; et
alli. As Grandes Cavernas do Brasil. Belo Horizonte: Editora Grupo Bambuí de
Pesquisas Espeleólogicas.
FREITAS, Edith Alves
de A. & SILVA, José Freitas da. 1996. História da Freguesia Velha de Santo
Antonio – Campo Formoso.
SCAPOLATEMPORE,
Renato. Encontro em
Dia. In Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte. 1999.
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