O município de Campo Formoso com
extensão de 7.258,574km2 está situado na Microrregião
de Senhor do Bonfim, Mesorregião Centro Norte da Bahia, a 401 km
de Salvador, entre as coordenadas geográficas 10º30’27’ de Latitude Sul e
40º19’17“ de Longitude Oeste.
Devido a grande extensão territorial,
no município de Campo Formoso há variações nos tipos de vegetação. Para isso,
interferem vários fatores, entre os quais se destacam variações de
pluviosidade, de altitude e de solo. Esses fatores atuam isoladamente ou, o que
é mais comum, em graus variáveis de inter–relações. Dessa forma, ocorrem em
Campo Formoso 3 zonas fitogeográficas: a Zona da Caatinga, Zona das Grotas e
zona dos Tabuleiros.
Zonas fitogeográficas são regiões divididas de acordo com
a flora predominante. São estudadas pela fitogeografia, ramo da biogeografia responsável por estudar a origem, distribuição, adaptação e
associação das plantas de acordo com a localização geográfica e sua evolução.
A zona das Grotas situa-se
na zona de influência da cadeia montanhosa da Serra da Jacobina, é constituída
de vales e grotões férteis com rios e riachos permanentes. Nesta zona foi
erigido o povoado que deu origem a cidade de Campo Formoso, precisamente quando
acontecia a colonização das terras do interior do Brasil colônia no séc. XII.
Foi à primeira povoação que surgiu em todo Norte do estado da
Bahia por força da presença dos bandeirantes baianos em busca das minas de ouro
e prata. Era um aldeamento indígena.
O clima é ameno com variações que vão
do subúmido a seco, com os totais pluviométricos que podem atingir até 900 mm. A vegetação ai é exuberante com variadas espécies vegetais.
Além da caatinga arbórea densa há pequenos fragmentos da floresta estacional
decidual nas áreas mais úmidas da Serra da jacobina e trechos de campos
rupestres.
Acredita-se que a Floresta Estacional
Decidual seja um remanescente da Mata Atlântica. Nela ainda existem exemplares
de árvores como o amargoso, a maçaranduba, o pau-ferro, o ipê roxo e amarelo, a
peroba e a catuaba.
As espécies mais representativas da
fauna local são: Tatu peba, Tatu verdadeiro, Cutia, Paca, Tamanduá mirim
(cambula), Gato do mato (morisco, maninha), Preá, Coelho, Ouriço caxeiro,
Sariguê (saruê), Gambá, Raposa, Mocó, Sagui, Macacos Veado, Morcego, Garça
branca grande, Garça branca pequena, Frango d’água, Mergulhão caçador, Socó,
Socó-boi, Lavadeira, Gaviões, Beija-flor, Perdiz, Codorna, Juriti, Nambu
(Inhambu), Sabiá, Bem-te-vi, Zabelê (juó), Seriema, Espanta boiada,
Rolinha-caldo-de-feijão, Rolinha branquinha, Sofrê, Azulão, Araponga, Sanhaço,
Caracará, Canário da terra, Cardeal, Pássaro preto, Coruja, Caburé, Papa-capim,
João de barro, Piaba, Traíra, Corró e Jundiá.
Os solos apresentam relativa capacidade
de exploração agrícola, especialmente nos anos com precipitação pluviométrica razoável.
São solos podzólicos do tipo latossolo amarelo e vermelho. Na parte
ocidental da Serra de Jacobina, ocorre o Complexo Máfico-Ultramáfíco Estratiforme
de Campo Formoso, conhecido por conter importantes mineralizações de cromo, as
maiores da América Latina.
A Serra da Jacobina se constitui nos
últimos relevos consistentes da Serra do Espinhaço que acompanha a margem
direita do Rio São Francisco, na altura de Mundo Novo, Miguel Calmon, Jacobina,
Mirangaba, Pindobaçu, Campo Formoso, Antônio Gonçalves e Jaguarari.
A Zona das Grotas é drenada pela Bacia do Rio Itapicuru que apresenta
vários riachos que têm suas nascentes em brejos situados na Serra da Jacobina. É de grande relevância uma vez que abastece a cidade de Campo Formoso e a maior parte
dos povoados dessa área. Nesta Bacia
Hidrográfica, a Serra da Jacobina é uma poderosa caixa d’água que a cada ano
renova suas águas com as chuvas.
A economia da população que reside nesta zona tem como base produtiva à
mineração e atividades produtivas afins, ao lado da agropecuária. Vale
ressaltar as pequenas indústrias de alimentos, metalúrgica e da construção
civil. Há um número razoável de empresas de serviços e comércio nos diversos
ramos. Ganha destaque a comercialização de pedras preciosas e semipreciosas a
atividade de lapidação e artesanato. A atividade de turismo ecológico pode ser
uma opção de geração de receitas, entre as alternativas destacam-se a visitação
a rios, riachos e cascatas que descem das serras e colinas.
Vários produtos se destacam em nível de
produção agrícola nesta paisagem, como a mandioca, mamona e feijão. Algumas
comunidades situadas no “pé das serra”, encravadas numa área de
microclima peculiar com grande umidade se destacam pelo cultivo econômico de
hortaliças, verduras e frutas como manga, abacate e banana. Também é ressaltada
a produção de mel em algumas comunidades.
A Zona da Caatinga é a
maior das zonas fitogeográficas campoformosenses. Caracteriza–se por uma
vegetação de porte médio a baixo, tipicamente tropófila (decídua) rica de
espinhos, na qual se interpõem Cactáceas e Bromeliáceas. O clima é seco. O solo
em grande parte é raso.
A maior parte da população residente na
Zona da Caatinga é composta por pessoas extremamente carentes, cuja renda
familiar é acrescida por recursos advindos de programas assistenciais do
governo federal, pensões e aposentadorias.
Pequenos proprietários rurais se
organizam em comunidades de pequenos agricultores e fundos e fecho de pasto,
utilizam basicamente a mão-de-obra familiar no processo produtivo, sobrevivem
da produção e extração da fibra do sisal, da criação de caprinos, ovinos e da
agricultura de subsistência (plantio de milho, feijão e mandioca).
Médios e grandes proprietários rurais
se dedicam à criação do gado bovino de forma extensiva e do plantio de culturas
irrigadas como o tomate. Em períodos de estiagem prolongada boa parte da
população procura outras áreas agrícolas do Brasil ou grandes centros urbanos
para trabalharem, com isso há um decréscimo considerável na população local.
A área está incluída na bacia de
drenagem do rio Salitre, um rio intermitente que deságua no rio São Francisco.
O Rio salitre nasce na Boca da Madeira no município de Morro do Chapéu, escoa
na direção Sul-Norte e deságua no município de Juazeiro, percorrendo 333,24
km. O Baixo Salitre que abrange parte do município de campo Formoso é uma área
com significativos conflitos devido ao uso intensivo da agricultura irrigada.
A Zona dos Tabuleiros onde se encontra 20 povoados
quilombolas reconhecidas pela SEPROMI – Secretaria de Promoção da Igualdade
Racial é formada por extensos tabuleiros situados entre a Serra do São Francisco,
Serra Escurial, Serra do Mulato e Rio Salitre. A maior parte da vegetação ai
assemelha-se à das grotas com árvores de grande porte formando matas e bosques.
A população da Zona dos Tabuleiros é
formada em sua maioria por pequenos agricultores, que possuem múltiplas formas
de organização social: comunidades de pequenos agricultores, fundos e fecho de
pasto, quilombolas, assentamentos de reforma agrária, ocupações e acampamentos
de trabalhadores sem-terra.
A principal atividade produtiva da zona
dos tabuleiros é a agricultura do tipo familiar, com destaque para criação de
caprinos. Cultiva-se o sisal, mamona, feijão, milho e a mandioca com expressiva
produção de farinha. Destaca-se ainda a agricultura irrigada no Vale do Rio
Salitre, onde se concentram extensas áreas de terras muito férteis. A
comercialização da fibra de sisal é feita sem o beneficiamento, resultando em
baixa rentabilidade para ambas as comunidades.
Devido à ocorrência de secas
prolongadas e a falta de políticas púbicas que garantam a permanência dessas
pessoas no campo, muitos trabalhadores têm saído de suas comunidades e se
submetido a condições degradantes de trabalho em empresas rurais e urbanas do
Centro-Sul brasileiro, principalmente na fruticultura, no corte da
cana-de-açúcar e na construção civil. As mulheres trabalham com a palha do
licuri, planta nativa da região, produzindo chapéus, vassouras e esteiras, a
fim de garantir uma renda mínima para sua sobrevivência. A continuidade desta
atividade é importante para a manutenção dos licurizeiros, os quais estão sendo
eliminados com os constantes desmatamentos.
A tipologia vegetal predominante é a
caatinga arbustiva-arbórea entremeada por
pastagens e áreas com agricultura de subsistência Entre as espécies
vegetais observadas destacavam-se o angico Anadenanthera macrocarpa (Benth.)
Brenan, a catingueira Caesalpinia pyramidalis (Tul.), o ingá Inga sp.,
a unha-de-gato Mimosa sp., a jurema-lisa Mimosa
verrucosa (Benth.), a embaúba Cecropia sp.,
o marmeleiro Croton sp., o jatobá Hymenaea sp.,
o murici Byrsonima sp. e o licuri Syagrus coronata (Martius)
Beccari. Em áreas serranas há ocorrência de campos rupestres.
A zona dos tabuleiros encontra-se nos
domínios da unidade geomorfológica dos planaltos cársticos da Chapada
Diamantina, que se constitui de um conjunto de formas aplainadas e feições
estruturais observadas nas rochas carbonáticas da Formação Salitre do Grupo
Una. A zona tem sua maior parte pertencente
ao compartimento de relevo das depressões periféricas e interplanálticas.
A região é contemplada com uma riqueza
natural expressiva: muitas serras, com vários minérios e cavernas que
constituem um sítio de grande valor científico mundial. A Toca da Boa
Vista, a maior caverna do Hemisfério Sul , um dos mais
importantes sítios espeleológicos e paleontológicos brasileiros encontra se
nesta zona. E juntamente com as cavernas vizinhas – Toca da Barriguda, Toca do
Calor de Cima, Toca do Pitu e Toca do Morrinho – compreende “um conjunto de
relevância geológica mundial”. As cavernas se desenvolvem em rochas
carbonáticas da Formação Salitre (Grupo Una). Os processos que
geraram essas cavernas estão provavelmente relacionados à dissolução por ácido
sulfúrico, e são relativamente pouco comuns, resultando em uma morfologia
atípica.
Essa região, com clima tropical
semiárido, por possuir índice de precipitação pluviométrica anual oscilando
entre 1792-759 mm/ano (média de 490 mm) e cursos d’água
incipientes, possui uma geomorfologia cárstica peculiar, onde predomina o
carste encoberto denotados por pequenos dolinamentos com afloramentos
lapiezados.
A zona encontra-se situada na bacia
hidrográfica do rio Salitre, afluente do rio São Francisco. Vários afluentes do
rio Salitre unem-se ao rio Lage antes dele passar por Lage dos Negros. Já
a leste da serra de São Francisco mais alguns riachos também alimentam o rio
Lage aumentando um pouco mais sua vazão. A 12 km para leste o rio Lage muda de
direção e passa a se chamar Rio Pacuí.
Está em andamento o processo de criação
do Parque Boqueirão a Onça, um Projeto que esta sendo desenvolvido pelo Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e de Recursos Renováveis (IBAMA) e o Instituto
Chico Mendes (ICMBIO). Em 2002, época que foi iniciada a criação do parque,
a proposta abrangia uma área de 823 mil hectares do estado da Bahia, que
segundo as pesquisas, revelam a existência de espécies desconhecidas,
importantes exemplares da fauna brasileira e de animais ameaçados de extinção.
A parte que abrange o município de campo Formoso corresponde a zona dos
Tabuleiros, é uma região formada por caatinga de areia com afloramentos de
arenito e áreas de ecótonos (encontro) entre a caatinga e campo rupestre.
É região de difícil acesso, com terra
pouco valorizada, poucas estradas (nenhuma pavimentada) e com pouca gente em
volta – três habitantes por mil quilômetros quadrados. Perfeito para a
conservação. Os estudos atuais em negociação com o ICMBio, ministério das Minas
e Energia e governo da Bahia não apontam mais para um grande parque. Os
trabalhos prevêem a criação de um mosaico de unidades de conservação com uma
área de 117 mil ha como monumento natural, 420 mil ha como área de proteção
ambiental (APA) e um pedaço de 317 mil ha para o parque nacional.
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