terça-feira, 11 de junho de 2013

ZONAS FITOGEOGRÁFICAS DE CAMPO FORMOSO

Mapa: Zonas fitogeográficas de Campo Formoso (divisão empírica)

 Zona da caatinga 
 Zona dos Tabuleiros 
Sem título
Zona das grotas
O município de Campo Formoso com extensão de 7.258,574kmestá situado na Microrregião de Senhor do Bonfim, Mesorregião Centro Norte da Bahia, a 401 km de Salvador, entre as coordenadas geográficas 10º30’27’ de Latitude Sul e 40º19’17“ de Longitude Oeste.

Devido a grande extensão territorial, no município de Campo Formoso há variações nos tipos de vegetação. Para isso, interferem vários fatores, entre os quais se destacam variações de pluviosidade, de altitude e de solo. Esses fatores atuam isoladamente ou, o que é mais comum, em graus variáveis de inter–relações. Dessa forma, ocorrem em Campo Formoso 3 zonas fitogeográficas: a Zona da Caatinga, Zona das Grotas e zona dos Tabuleiros.

Zonas fitogeográficas são regiões divididas de acordo com a flora predominante. São estudadas pela fitogeografia, ramo da biogeografia  responsável por estudar a origem, distribuição, adaptação e associação das plantas de acordo com a localização geográfica e sua evolução.

zona das Grotas situa-se na zona de influência da cadeia montanhosa da Serra da Jacobina, é constituída de vales e grotões férteis com rios e riachos permanentes. Nesta zona foi erigido o povoado que deu origem a cidade de Campo Formoso, precisamente quando acontecia a colonização das terras do interior do Brasil colônia no séc. XII.  Foi à primeira povoação que surgiu em todo Norte do estado da Bahia por força da presença dos bandeirantes baianos em busca das minas de ouro e prata. Era um aldeamento indígena.

O clima é ameno com variações que vão do subúmido a seco, com os totais pluviométricos que podem atingir até 900 mm. A vegetação ai é exuberante com variadas espécies vegetais. Além da caatinga arbórea densa há pequenos fragmentos da floresta estacional decidual nas áreas mais úmidas da Serra da jacobina e trechos de campos rupestres.

Acredita-se que a Floresta Estacional Decidual seja um remanescente da Mata Atlântica. Nela ainda existem exemplares de árvores como o amargoso, a maçaranduba, o pau-ferro, o ipê roxo e amarelo, a peroba e a catuaba.

As espécies mais representativas da fauna local são:  Tatu peba, Tatu verdadeiro, Cutia, Paca, Tamanduá mirim (cambula), Gato do mato (morisco, maninha), Preá, Coelho, Ouriço caxeiro, Sariguê (saruê), Gambá, Raposa, Mocó, Sagui, Macacos Veado, Morcego, Garça branca grande, Garça branca pequena, Frango d’água, Mergulhão caçador, Socó, Socó-boi, Lavadeira, Gaviões, Beija-flor, Perdiz, Codorna, Juriti, Nambu (Inhambu), Sabiá, Bem-te-vi, Zabelê (juó), Seriema, Espanta boiada, Rolinha-caldo-de-feijão, Rolinha branquinha, Sofrê, Azulão, Araponga, Sanhaço, Caracará, Canário da terra, Cardeal, Pássaro preto, Coruja, Caburé, Papa-capim, João de barro, Piaba, Traíra, Corró e Jundiá.

Os solos apresentam relativa capacidade de exploração agrícola, especialmente nos anos com precipitação pluviométrica razoável. São solos podzólicos do tipo latossolo amarelo e vermelho.  Na parte ocidental da Serra de Jacobina, ocorre o Complexo Máfico-Ultramáfíco Estratiforme de Campo Formoso, conhecido por conter importantes mineralizações de cromo, as maiores da América Latina.

A Serra da Jacobina se constitui nos últimos relevos consistentes da Serra do Espinhaço que acompanha a margem direita do Rio São Francisco, na altura de Mundo Novo, Miguel Calmon, Jacobina, Mirangaba, Pindobaçu, Campo Formoso, Antônio Gonçalves e Jaguarari.

A Zona das Grotas é drenada pela Bacia do Rio Itapicuru que apresenta vários riachos que têm suas nascentes em brejos situados na Serra da Jacobina. É de grande relevância uma vez que abastece a cidade de Campo Formoso e a maior parte dos povoados dessa área. Nesta Bacia Hidrográfica, a Serra da Jacobina é uma poderosa caixa d’água que a cada ano renova suas águas com as chuvas.

A economia da população que reside nesta zona tem como base produtiva à mineração e atividades produtivas afins, ao lado da agropecuária. Vale ressaltar as pequenas indústrias de alimentos, metalúrgica e da construção civil. Há um número razoável de empresas de serviços e comércio nos diversos ramos. Ganha destaque a comercialização de pedras preciosas e semipreciosas a atividade de lapidação e artesanato. A atividade de turismo ecológico pode ser uma opção de geração de receitas, entre as alternativas destacam-se a visitação a rios, riachos e cascatas que descem das serras e colinas.

Vários produtos se destacam em nível de produção agrícola nesta paisagem, como a mandioca, mamona e feijão. Algumas comunidades situadas no “pé das serra”, encravadas numa área de microclima peculiar com grande umidade se destacam pelo cultivo econômico de hortaliças, verduras e frutas como manga, abacate e banana. Também é ressaltada a produção de mel em algumas comunidades.

Zona da Caatinga é a maior das zonas fitogeográficas campoformosenses. Caracteriza–se por uma vegetação de porte médio a baixo, tipicamente tropófila (decídua) rica de espinhos, na qual se interpõem Cactáceas e Bromeliáceas. O clima é seco. O solo em grande parte é raso.

A maior parte da população residente na Zona da Caatinga é composta por pessoas extremamente carentes, cuja renda familiar é acrescida por recursos advindos de programas assistenciais do governo federal, pensões e aposentadorias.

Pequenos proprietários rurais se organizam em comunidades de pequenos agricultores e fundos e fecho de pasto, utilizam basicamente a mão-de-obra familiar no processo produtivo, sobrevivem da produção e extração da fibra do sisal, da criação de caprinos, ovinos e da agricultura de subsistência (plantio de milho, feijão e mandioca).

Médios e grandes proprietários rurais se dedicam à criação do gado bovino de forma extensiva e do plantio de culturas irrigadas como o tomate. Em períodos de estiagem prolongada boa parte da população procura outras áreas agrícolas do Brasil ou grandes centros urbanos para trabalharem, com isso há um decréscimo considerável na população local.

A área está incluída na bacia de drenagem do rio Salitre, um rio intermitente que deságua no rio São Francisco. O Rio salitre nasce na Boca da Madeira no município de Morro do Chapéu, escoa na direção Sul-Norte e deságua no município de Juazeiro, percorrendo 333,24 km. O Baixo Salitre que abrange parte do município de campo Formoso é uma área com significativos conflitos devido ao uso intensivo da agricultura irrigada.

Zona dos Tabuleiros onde se encontra 20 povoados quilombolas reconhecidas pela SEPROMI – Secretaria de Promoção da Igualdade Racial é formada por extensos tabuleiros situados entre a Serra do São Francisco, Serra Escurial, Serra do Mulato e Rio Salitre. A maior parte da vegetação ai assemelha-se à das grotas com árvores de grande porte formando matas e bosques.
A população da Zona dos Tabuleiros é formada em sua maioria por pequenos agricultores, que possuem múltiplas formas de organização social: comunidades de pequenos agricultores, fundos e fecho de pasto, quilombolas, assentamentos de reforma agrária, ocupações e acampamentos de trabalhadores sem-terra.

A principal atividade produtiva da zona dos tabuleiros é a agricultura do tipo familiar, com destaque para criação de caprinos. Cultiva-se o sisal, mamona, feijão, milho e a mandioca com expressiva produção de farinha. Destaca-se ainda a agricultura irrigada no Vale do Rio Salitre, onde se concentram extensas áreas de terras muito férteis. A comercialização da fibra de sisal é feita sem o beneficiamento, resultando em baixa rentabilidade para ambas as comunidades.

Devido à ocorrência de secas prolongadas e a falta de políticas púbicas que garantam a permanência dessas pessoas no campo, muitos trabalhadores têm saído de suas comunidades e se submetido a condições degradantes de trabalho em empresas rurais e urbanas do Centro-Sul brasileiro, principalmente na fruticultura, no corte da cana-de-açúcar e na construção civil. As mulheres trabalham com a palha do licuri, planta nativa da região, produzindo chapéus, vassouras e esteiras, a fim de garantir uma renda mínima para sua sobrevivência. A continuidade desta atividade é importante para a manutenção dos licurizeiros, os quais estão sendo eliminados com os constantes desmatamentos.

A tipologia vegetal predominante é a caatinga arbustiva-arbórea entremeada por pastagens e áreas com agricultura de subsistência Entre as espécies vegetais observadas destacavam-se o angico Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan, a catingueira Caesalpinia pyramidalis (Tul.), o ingá Inga sp., a unha-de-gato Mimosa sp., a jurema-lisa Mimosa verrucosa (Benth.)a embaúba Cecropia sp., o marmeleiro Croton sp., o jatobá Hymenaea sp., o murici Byrsonima sp. e o licuri Syagrus coronata (Martius) BeccariEm áreas serranas há ocorrência de campos rupestres.

A zona dos tabuleiros encontra-se nos domínios da unidade geomorfológica dos planaltos cársticos da Chapada Diamantina, que se constitui de um conjunto de formas aplainadas e feições estruturais observadas nas rochas carbonáticas da Formação Salitre do Grupo Una. A zona tem sua maior parte pertencente ao compartimento de relevo das depressões periféricas e interplanálticas.

A região é contemplada com uma riqueza natural expressiva: muitas serras, com vários minérios e cavernas que constituem um sítio de grande valor científico mundial. A Toca da Boa Vista, a maior caverna do Hemisfério Sul ,  um dos mais importantes sítios espeleológicos e paleontológicos brasileiros encontra se nesta zona. E juntamente com as cavernas vizinhas – Toca da Barriguda, Toca do Calor de Cima, Toca do Pitu e Toca do Morrinho – compreende “um conjunto de relevância geológica mundial”. As cavernas se desenvolvem em rochas carbonáticas da Formação Salitre (Grupo Una).  Os processos que geraram essas cavernas estão provavelmente relacionados à dissolução por ácido sulfúrico, e são relativamente pouco comuns, resultando em uma morfologia atípica.

Essa região, com clima tropical semiárido, por possuir índice de precipitação pluviométrica anual oscilando entre 1792-759 mm/ano (média de 490 mm)  e cursos d’água incipientes, possui uma geomorfologia cárstica peculiar, onde predomina o carste encoberto denotados por pequenos dolinamentos com afloramentos lapiezados.

A zona encontra-se situada na bacia hidrográfica do rio Salitre, afluente do rio São Francisco. Vários afluentes do rio Salitre  unem-se ao rio Lage antes dele passar por Lage dos Negros. Já a leste da serra de São Francisco mais alguns riachos também alimentam o rio Lage aumentando um pouco mais sua vazão. A 12 km para leste o rio Lage muda de direção e passa a se chamar Rio Pacuí.

Está em andamento o processo de criação do Parque Boqueirão a Onça, um Projeto que esta sendo desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e de Recursos Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes (ICMBIO). Em 2002, época que foi iniciada a criação do parque, a proposta abrangia uma área de 823 mil hectares do estado da Bahia, que segundo as pesquisas, revelam a existência de espécies desconhecidas, importantes exemplares da fauna brasileira e de animais ameaçados de extinção. A parte que abrange o município de campo Formoso corresponde a  zona dos Tabuleiros, é uma região formada por caatinga de areia com afloramentos de arenito e áreas de ecótonos (encontro) entre a caatinga e campo rupestre.

É região de difícil acesso, com terra pouco valorizada, poucas estradas (nenhuma pavimentada) e com pouca gente em volta – três habitantes por mil quilômetros quadrados. Perfeito para a conservação. Os estudos atuais em negociação com o ICMBio, ministério das Minas e Energia e governo da Bahia não apontam mais para  um grande parque. Os trabalhos prevêem a criação de um mosaico de unidades de conservação com uma área de 117 mil ha como monumento natural, 420 mil ha como área de proteção ambiental (APA) e um pedaço de 317 mil ha para o parque nacional.


REFERÊNCIAS
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SILVA, Cláudio Maurício TEIXEIRA da; Milton PEREIRA FILHO; Luciana Vetel CRUZ & Marcus Vinícius C. O. LOPES. Geologia Preliminar das Grutas: Toca da Boa Vista e Toca da Barriguda, Campo Formoso – Bahia – Brasil. 13th International Congress of Speleology 4th Speleological Congress of Latin América and Caribbean 26th Brazilian Congress of Speleology Brasília DF, 15-22 de julho de 2001. Disponível em: http://www.sbe.com.br/anais26cbe/26cbe_035-041.pdf . Acesso em 10 de junho de 2013.

FREITAS, Edith Alves de A.; SILVA, José Freitas da. História da Freguesia Velha de Santo Antônio Campo Formoso. 2. ed. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo, 2004.

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SANTOS, Solon Natalício Araújo dos. 2009 Políticas Indígenas nos aldeamentos da Vila de Santo Antonio de Jacobina (1803-1816).  ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009. Disponível em: http://www.ifch.unicamp.br/ihb/Trabalhos/ST36Solon.pdf

TOCA DA BOA VISTA (CAMPO FORMOSO), BA - A MAIOR CAVERNA DO HEMISFÉRIO SUL.Disponível em: http://sigep.cprm.gov.br/sitio019/sitio019.pdf. Acesso em 23 de dezembro de 2012.
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COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. Mineração X Comunidades Camponesas: Diagnóstico dos impactos negativos da atividade minerária sobre as 37 comunidades camponesas pesquisadas pela CPT Bonfim na microrregião econômica do Piemonte da Diamantina/BA. Senhor do Bonfim/BA, 2012.





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