Acabo de completar 80 anos, mas a
minha aparência é de alguém de 85. Tenho sérios problemas renais porque bebo
pouca água. Creio que me resta pouco tempo. Hoje sou uma das pessoas mais
idosas nesta sociedade. Recordo quando tinha 5 anos.Tudo era muito diferente.
Havia muitas árvores nos parques. As casas tinham bonitos jardins e eu podia
desfrutar de um banho de chuveiro por aproximadamente meia hora. Agora usamos
toalhas em azeite mineral para limpar a pele. Antes, todas as mulheres
mostravam as suas formosas cabeleiras. Agora, raspamos a cabeça para mantê-la
limpa sem água. Lavavamos o carro com a água que saía de uma mangueira. Hoje os
meninos não acreditam que utilizávamos a água dessa forma. Recordo que havia
muitos anúncios que diziam para CUIDAR DA ÁGUA, só que ninguém lhes dava
atenção. Pensávamos que a água jamais poderia terminar. Agora, todos os rios,
barragens, lagoas e mantos aqüíferos estão irreversivelmente contaminados ou
esgotados. Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os
lados. As infecções gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias
urinárias são as principais causas de morte. A indústria está paralisada e o
desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de
emprego e pagam os empregados com água potável em vez de salário. Os assaltos
por um litro de água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética.
Antes, a quantidade de água indicada como ideal para se beber era oito copos
por dia, por pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo. A roupa é
descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo. Tivemos que voltar
a usar as fossas sépticas como no século passado porque a rede de esgoto não
funciona mais por falta de água. A aparência da população é horrorosa: corpos
desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios
ultravioletas que já não têm a capa de ozônio que os filtrava na atmosfera. Com
o ressecamento da pele, uma jovem de 20 anos parece ter 40. Os cientistas
investigam, mas não há solução possível. Não se pode fabricar água, o oxigênio
também está degradado por falta de árvores, o que diminuiu o coeficiente
intelectual das novas gerações. Alterou-se a morfologia dos gametas de muitos
indivíduos. Como conseqüência, há muitas crianças com insuficiências, mutações
e deformações. O governo até nos cobra pelo ar que respiramos: 137 m3 por dia
por habitante adulto. Quem não pode pagar é retirado das "zonas
ventiladas", que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que
funcionam com energia solar. Não são de boa qualidade, mas se pode respirar. A
idade média é de 35 anos. Em alguns países restam manchas de vegetação com o
seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exército. A água tornou-se um
tesouro muito cobiçado, mais do que o ouro ou os diamantes. Aqui não há árvores
porque quase nunca chove. E quando chega a ocorrer uma precipitação, é de chuva
ácida. As estações do ano foram severamente transformadas pelas provas atômicas
e pela poluição das indústria do século XX. Advertiam que era preciso cuidar do
meio ambiente, mas ninguém fez caso. Quando a minha filha me pede que lhe fale
de quando era jovem, descrevo o quão bonito eram os bosques. Falo da chuva e
das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e
barragens, beber toda a água que quisesse. Não posso deixar de me sentir
culpada porque pertenço à geração que acabou de destruir o meio ambiente, sem
prestar atenção a tantos avisos. Agora, nossos filhos pagam um alto preço...
Sinceramente, creio que a vida na Terra já não será possível dentro de muito
pouco tempo porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto
irreversível. Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a humanidade
compreendesse isto... enquanto ainda era possível fazer algo para salvar o
nosso planeta Terra!
http://giovanna6.blogspot.com.br/2008/10/carta-escrita-no-ano-2040.html
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